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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Nunca digas nunca ou Rolleiflex






Falar dum ícone é muito difícil, ainda mais quando a história nem é assim tão épica como isso. Ninguém pode dizer que não conhece a Rolleiflex, a máquina com mais aparições nos filmes nos filmes dos anos 50. Não há cena de repórteres equipados com o chapelinho, cigarro ao canto da boca que não tenha uma Rolleiflex a flashar. Até o Desafinado de Tom Jobim fala da Rolleiflex,

O único problema é que o Desatinado aqui não podia com as TLR (do Inglês Twin Lens Reflex ou reflexa de duas objectivas), achava-as esquisitas, não eram verdadeiramente reflexas, eram complicadas de usar, e focar com aquilo, Deus nos livre. É certo que vários espécimes me passaram pelas mãos, mas não o certo!

Um dia, nos meus famosos passeios de bicicleta, parei numa loja que tinha um aspecto inclassificável, tinha monos e mais monos, coisas novas mas tão antigas e outras que eram mesmo velhas. Decidi entrar e perguntei se tinham máquinas fotográficas antigas e uma simpática senhora disse-me que não. Saí da loja  e nem tinha dado ao pedal quando um homem sai da loja a correr a perguntar se era eu que queria máquinas antigas. Bom, lá disse que sim e o senhor disse que tinha uma em casa e que um dia a traria. Ficou combinado. A partir desse dia. quase todas as semanas lá ia eu à loja perguntar pela máquina e receber a resposta "hoje esqueci-me, mas para a semana eu trago". Andamos nisto umas semanas até que o vendedor teve pena de mim e me disse que se eu aparecesse lá de tarde ele ia traria a máquina. Eu crédulo como sempre, de tarde lá estava na loja. A dita cuja afinal sempre existia e estava lá, uma Rolleiflex. Ai, pensei, logo "isto". O homem lá pediu um preço absurdo e logo a uma pessoa que tinha anti-corpos para com aquele estilo de máquina. Como o preço foi ficando muito interessante, pensei que a compraria e venderia logo a seguir. Negócio feito! Tinha Uma Rolleiflex, nem sabia que modelo tinha comprado.

Sentei-me num degrau do passeio, o estojo de cabedal era magnifico e estava como novo. Examinei melhor a compra e vi que era uma Rolleiflex 3,5 F, com fotómetro e objectiva Schneider Xenotar 75/3,5. Quando a tirei completamente  do estojo e a segurei com as minhas mãos, pumba, fiquei logo rendido ao mito, mas é que foi tiro e queda! Que coisa mais linda, que acabamento sumptuoso, o peso (sim gosto das pesadas!), a precisão dos comandos, tudo assombroso. Quem disse que eu não gostava de TLRs?


                                                                                  

Como sempre, tenho sempre que asneirar em alguma coisa, tão eufórico estava que decidi logo por-lhe um rolo para a experimentar in situ, in momentum! Lá lhe meti o rolo 120 a correr, fechei a tampa e voilá, agora era só disparar! Para meu espanto, depois dumas 3 fotos, o avanço começo a correr, nada de parar no fotograma correspondente e o rolo foi-se em 5 segundos! Nem queria acreditar que a Bela estivesse doente, impaciente, fui direitinho que nem um fuso ao Adriano, ligeiramente menos menos conhecido do que a Rolleiflex, mostrar-lhe a Bela doente.

"Ouça lá, você é burro ou faz-se?" O Adriano abanava a cabeça e ia dizendo, Santa Ignorância, Santa ignorância. Ligeiramente incomodado com os elogios que estava a receber lá lhe perguntei o que tinha feito de mal. "Você não sabe carregar o rolo numa Rolleiflex, homem! Isto não é assim, tem uma técnica!" Pois, aparentemente é preciso que o rolo passe por debaixo dum rolo e não por cima para fazer actuar um apalpador para que a máquina saiba que tem rolo. Chapeau! A bela não estava doente, o palerma aqui é que não a sabia utilizar!